outro dia perdí uma caneta. não perdí de não encontrar. perdí de morrer.
ela morreu em minhas mãos, se desmantelou.
sofreu uma operação na tentativa de viver.
mas morreu, se desintegrou.
foi triste. ela era nova, novinha. ainda cheia e com brilho.
o brilho de não estar fosca pelo contato com os dedos. morreu e foi pro lixo.
não enterrei, tive medo de que ela não fosse se dissolver. a terra corrói, come.
mas aquele plástico receio que não.
penso que o coração da caneta seja a mola.
a mola que impulsiona, que expõe a tinta entubada.
a mola que mostra ao mundo sua essência. o meu coração é assim, se eu deixar.
não o eu-juliana-inteira, mas o eu-meu-pensar.
se eu deixar, o meu coração me mostra. me despe.
eis o melhor e o pior de mim.